quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O Realismo Socialista

           Ao passar dos tempos a produção artística acabou se transformando, desde o Renascimento Italiano para cá isso só aumentou, contudo alguns se negam em qualificar como arte alguns gêneros artísticos, não estou falando do hip-hop ou do graffiti, que para mim também constituem uma arte, que por sinal é bastante desvalorizada por alguns, eu estou falando do Realismo Socialista.
"Glória aos heróis do levante do Encouraçado Potemkin"


O Realismo Socialista foi um estilo artístico que surgiu na finada União Soviética entre as décadas de 1930 e 1960.
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             Desempenhou papel importante nos campos de aplicação da forma, desde a Literatura até todas as manifestações artísticas e culturais soviéticas (Pintura, Arquitetura, Design, Escultura, Música, Cinema, Teatro).

               Muitos relacionam o Realismo Socialista  ao comunismo ortodoxo e aos regimes de orientação ou inspiração stalinista, mas eu não o vejo como assim, eu vejo-o como um gênero de produção artística que  foi muito hostilizado no Ocidente, por razões ideológicas, e que era incentivado na União Soviética para a propagação da arte socialista, mas o Realismo Socialista surgiu como contraponto à arte acadêmica russa, que normalmente desempenhava um papel reacionário no Império.


             O Realismo socialista é tomado como sinônimo de jdanovismo, a estética oficial assim batizada em referência a Andrei Jdanov, um comissário de Stalin responsável pela produção cultural e propaganda na URSS, que por sinal era um dos camaradas mais preferidos pelo Vojd ("líder", em russo, como era chamado as vezes o Secretário Geral do Partido Comunista da União Soviética, Iossif Stálin), depois do falecido Sergei Kirov.
Jdanov, esse cara de cabelo engraçado com cara de guarda municipal
            Em cima está Andrei Jdanov, um importante teórico do Realismo Socialista, que foi responsável por outras importantes ações como: a Coletivização da decáda de 1930; O comando de Leningrado (São Petersburgo), durante o Cerco à cidade na Segunda Guerra Mundial. 
          Ele era um dos comissários preferidos por Stálin, sendo um dos cogitados para sucedê-lo no comando da URSS; dispunha de tamanho prestígio no círculo comunista, tanto que o seu filho acabou se tornando administrador da Academia de Ciências de Moscou e genro do próprio Stálin;
         Contudo Jdanov era alcoólatra e morreu cedo em Moscou.
             Os críticos de arte ocidental consideravam o realismo socialista como um empobrecimento da arte como um todo na União Soviética por seguir parâmetros pré-estabelecidos pelo Partido Comunista e seguir preceitos marxistas à risca. Contudo, se esquece que grandes autores russos, de renome mundial aderiram ao Realismo Socialista, seja por opção ou por pressão política, como o escritor Máximo Gorky, o músico Shostakovich (que contestou diversas vezes a influencia do realismo socialista na música e acabou sendo obrigado a aderir à padronização soviética em suas composições) e o famoso cineasta Sergei Eisenstein ( o diretor de o Encouraçado Potemkin, A Greve e Ivan, o Terrível).

                                          O filme Tratoritsy é um exemplo do Realismo Socialista no cinema
           Na visão socialista, o realismo representava uma arte pura, porque não apresentava distorções (na visão jdnanovista, as distorções na arte eram marcas de uma arte burguesa, o que não chega a ser o caso) e por isso era incentivada.

             É óbvio que alguns estilos, como o Modernismo e movimentos contemporâneos não prevaleciam, mas isso não quer dizer que o Realismo Socialista não fosse arte.
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"Para o Oeste!"


           A seguir algumas obras do realismo socialista...

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"Glória à nossa Força Aérea Vermelha"
Esses são alguns pôsters e pinturas soviéticas dentre 1930 a 1965, quando o Realismo Socialista estava mais em alta, vemos alguns pôster enaltecendo soldados e a guerra, como os dois acima, esses são de cerca da Grande Guerra Patriótica (Segunda Guerra Mundial) e enalteciam o espirito patriótico da URSS.
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Vladimir Ilyich ensinando uma menina a ler
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                    "Internacional"
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"Fruto do nosso trabalho" (1 rublo, 1965)
           Esse pôster ao alto com Lênin ensinando uma menina a ler é uma propaganda apelativa para o programa de alfabetização soviético, que surgiu um grande efeito, já que a URSS tinha uma das menores taxas de analfabetismo do mundo (dados da ONU).


            Pode parecer estranho que uma moeda seja mostrada numa figura oficial, mas esse enaltece o trabalho do cidadão russo ao mostrar na moeda de rublo o produto de seu trabalho (Na indústria, é claro). O rublo como moeda não foi eliminado em toda a história da União Soviética, como alguns pensam.
             "Cuidado - O inimigo ouve!"

              Os cartazes a seguir são de cerca da Grande Guerra Patriótica, era interessante a ação com que esses elementos de propaganda e os discursos de propaganda influenciavam o cidadão comum na União Soviética.
"A bandeira de Lênin nós é guia - Avancem pela pátria, pela nossa vitória!"
 









                                                     






          
             Ainda há mais mostras da influência desse estilo no cotidiano comum dos cidadãos soviéticos, por meio de estátuas, A Mãe-Russia de Stalingrado (Volgogrado), A estátua O opérario e a kolkholz, em Moscou, e na arquitetura, como a Casa do Cais de Moscou e a Universidade Lomonosov de Moscou.

O operário e a kolkhoz



A Universidade Estatal de Moscou (Lomosonov)
A Casa do Cais em Moscou


 
             Mas talvez a melhor construção que poderia representar esse estilo artístico poderia ser o Palácio dos Sovietes.

             O Palácio dos Sovietes era uma idealização do próprio Stálin, uma construção que representasse o poder do sistema soviético, sendo a maior construção do mundo, maior até que Empire Center (que era o maior edifício da época).

              Para a construção do seu sonho, Stálin mandou demolir toda a Catedral de Cristo Salvador, para a construção de um Palácio onde se reuniriam todos os representantes dos sovietes do país, O Palácio dos Sovietes.

O Palácio dos Sovietes

           No topo do gigante palácio estaria nada mais nada menos que uma estátua de Lênin, maior que a Estátua da Liberdade, contudo a armação consumiria bastante aço, e apenas a sua fundação fora feita e com o ataque alemão à Moscou, o aço foi retirado para fazer barricadas e tanques.


             Talvez seja o melhor representante arquitetônico em toda a Moscou desse estilo, o metrô da cidade, o mais movimentado e talvez o mais extenso da Europa. O metrô moscovita começou a ser construído em meados dos anos de 1930 sob o comando do jovem comissário do Povo, Nikita Kruschiov, e ao contrário do que se pensa, não foi construído através de trabalho escravo, mas sim de trabalho voluntário da população moscovita, nos Sábados Soviéticos, onde os operários dedicavam um dia de semana para trabalhar em prol do "triunfo socialista".
A Ploschad Revolyutsi, a Praça da Revolução, sem dúvida é uma das mais belas estações do metrô de Moscou e talvez do Mundo!

            A Ploschad Revolyutsi, por exemplo é ornada com Mármore delicado, trabalhada em dourado, com uma extensa rede de arcos que formava uma cadeia em meio à estação com estátuas representando os mais diversos personagens da revolução, os operários, os camponeses, os soldados e os intelectuais. Há até uma curiosidade nisso tudo, todos os personagens estão encurvados diante os arcos, demonstrando a opressão do sistema soviético, mas ainda assim a força do povo russo é ressaltada.

     A arte soviética passa por uma transformação nos anos 50 e início dos anos 60, em decorrência do XX Congresso do Partido Comunista Soviético, a denúncia dos excessos do stalinismo por Kruschiov, sobretudo dos seus crimes no âmbito governamental e artístico fizeram com que a Academia Soviética deixasse de lado o estilo do Realismo Socialista e adotasse novas opções gráficas e visuais, na arquitetura é o momento que o construtivismo entra em vigor na URSS após o sucesso das obras de Le Corbusier e Niemeyer no Ocidente. O construtivismo casava perfeitamente com os interesses estratégicos de Kruschiov, no programa de incentivo à construção civil e de habitações para os trabalhadores soviéticos após a Segunda Guerra, além de serem construções rápidas e padronizadas, possuíam uma durabilidade maior que as construções russas.

       No cinema, a crítica logo surge com a ascensão de novos cineastas como Tarkovsky e Mikhalkov, que a despeito de não criticarem abertamente o regime soviético, iniciam discussões filosóficas e psicológicas dentro de seus filmes, cada vez mais introspectivos, o que destoava do clássico cinema socialista dos anos 30 que basicamente se compunha de peças de propaganda saudando Stalin e o novo estado socialista.

          No âmbito musical, as coisas evoluíram tardiamente, com a retirada da proibição ao jazz em meados dos anos 50, os jovens soviéticos passaram a contrabandear músicas ocidentais em chapas de raio X (bone music), escutando classicos da geração beat norte-americana, como Bob Dylan, e se vestindo como James Dean. A influência americana na juventude soviética era mal vista pela nomenklatura e a cultura underground soviética sofreu imediatamente com a dura repressão dos orgãos de segurança, seja a militsia ou a própria KGB. O rock soviético acaba se tornando um bastião de contestação ao regime e em meados de 1980 o punk rock chega à URSS e bandas como Cowboys de Leningrado se tornam símbolos da crítica da juventude ao regime engessado soviético, dominado sobretudo por velhos de outras gerações.
























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